quinta-feira, 11 de julho de 2013

Três cachorros e um pombo

São três cachorros. Três vira-latas de rua, bem comuns. Marcam ponto sempre no mesmo lugar, em frente a uma pet-shop e os vejo todo dia, a caminho do trabalho. O nome de um é Amarelo, o de outro Obama, o do terceiro ainda não sei. Mas não são destes vira-latas esfomeados que andam por aí fuçando no lixo alheio. Não, senhor! Estes foram meio que adotados pelas funcionárias da pet-shop, que mantém uma vasilha com ração, outra com água limpa e alguns panos na calçada em frente, bem embaixo da placa da loja. Se chover, a dona da casa vizinha abre os portões a dá abrigo aos cachorros. Então, apesar de serem cachorros de rua, levam uma vida bem razoável.
São uns cachorros muito bem agradecidos e retribuem o carinho com dedicação, fazendo o que sabem fazer de melhor, ou seja, sendo cachorros. Dá gosto ver a festa com que recebem as funcionárias da loja, quando chegam para abrir, logo de manhã. São também muito bem educados e vão longe para fazer suas necessidades, deixando a calçada da loja sempre bem asseada. Também não incomodam os clientes ou as funcionárias no horário do trabalho, ficam bem comportados do lado de fora. À noite, permanecem de guarda, encarando atentamente qualquer um que por ali transite. Se passar direto, tudo bem. Mas, ai do desavisado que encostar-se à loja ou ao portão da vizinha. Vai correr um quarteirão inteiro perseguido pelos atentos vigias.
São também um tanto preconceituosos, esses cachorros. Não perseguem carros, como costumam fazer seus colegas menos civilizados. Mas detestam bicicletas e motos. Latem furiosamente e correm atrás de qualquer ciclista ou motociclista que passe ao alcance deles. Também têm suas preferências por moda e são bem conservadores neste aspecto. Pessoas vestidas de forma discreta podem transitar por ali tranquilamente. Mas se aparece um destes jovens com tênis espalhafatoso, boné vestido ao contrário, bermudas aí pelo meio da bunda, mostrando a cueca, que Deus os acuda! O mais provável é que acabem mostrando o resto da bunda e deixem metade da bermuda na boca de um dos cachorros.
Durante algum tempo pensei que os cachorros estavam meio enjoados de ração e queriam algo mais fresco. É que, de vez em quando, um pombo pousava na placa da loja e os três ficavam sentados em baixo, encarando o pombo com aquele ar de “ah, se eu te pego”. E isto durava bastante tempo: os cachorros cá embaixo de olho no pombo lá em cima e o pombo lá de cima, de olho nos cachorros cá embaixo. Com o tempo, fui percebendo que os cachorros não queriam, de fato, mudar o cardápio, pois o pombo é sempre o mesmo, um branco com manchas pretas. Qualquer outro pombo que pare por ali é solenemente ignorado.

Resolvido a tirar a coisa a limpo, saí um dia mais cedo e fiquei de campana nos degraus de uma igreja, ali ao lado. Então, descobri que tudo não passa de um jogo entre os cachorros e o pombo. O pombo já estava lá, em seu poleiro com os cachorros atentos logo abaixo. Então, como que combinados, os cachorros se distraiam, olhavam para outro lado, o pombo descia, comia um bocado de ração, os cachorros voltavam e ele voava de novo para cima. A cena se repetiu várias vezes e percebi que os cachorros não se distraiam de verdade, era tudo fingimento. Quem é que poderia imaginar? A turminha ali não é de três cachorros. É de três cachorros e um pombo!

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