quinta-feira, 4 de julho de 2013

Plebiscito ou Referendo?




Em certo país ordeiro e pacífico, a presidenta se viu às voltas com uma questão muito importante que não conseguia resolver. Então convocou todo o ministério para ajudá-la a decidir o que fazer. Todos os seis ministros chegaram logo cedo, em seus próprios carros particulares, alguns de táxi, outros de bonde (Acredite ou não, minha senhora, o transporte público neste país é confortável, seguro, pontual e barato, até mesmo para quem não tem salário muito elevado, como os ministros de estado de lá.), e se reuniram numa pequena sala do palácio. Exposto o problema, confabularam por alguns momentos, então o mais experiente dos ministros respondeu à presidenta:
-Excelência, esta é uma questão fundamental para o destino do nosso povo. Não podemos decidir sozinhos. Precisamos fazer um plebiscito. Temos que formular a questão de forma clara e objetiva para que não haja dúvidas sobre a importância da decisão.
                     E resolveram que assim seria. Como a manhã mal tinha começado, tomaram um chá com torradas e foi cada um para seu gabinete, que havia muito trabalho a fazer e a sexta-feira mal tinha começado.
Na mesma época, em outro país ensolarado situado na porção ocidental do Atlântico Sul, a presidenta foi a um evento esportivo e ouviu uma vaia do povo. Não deu muita importância na ocasião, mas ficou meio cismada que a coisa podeira ser com ela. Pelo sim, pelo não, resolveu fazer um plebiscito para distrair o povo. Convocou todo o ministério e, no dia seguinte, chegaram todos os trinta e nove ministros, cada um na limusine mais luxuosa que o dinheiro público poderia comprar. Reuniram-se no salão mais suntuoso do palácio, onde foi servido o mais lauto café da manhã que o dinheiro público poderia comprar e, quando a presidenta expôs sua ideia, foi entusiasticamente aplaudida por todos. Imediatamente marcaram a data do plebiscito, quando entraria em vigor, separam quinhentos milhões do orçamento e já iam encerrando a reunião quando um destes ministros que ninguém sabe direito quem é, que está ali apenas para preencher a cota de algum partido nanico da base parlamentar, levantou a mão lá do fundo do salão:
-Uma questão de ordem, Senhora Presidenta: o que vamos perguntar para o povo neste plebiscito?
-Tem que ter uma pergunta?
Ninguém sabia direito. Arrumaram um computador, consultaram o Google e... Sim, tinha que ter uma pergunta. Prosseguiram então com a reunião. No fim, o ministro mais experiente do grupo anunciou a decisão à presidenta:
-Senhora Presidenta, decidimos deixar a pergunta por conta do terceiro ou quarto escalão. Aqui ninguém está muito preocupado com a resposta, então a pergunta é irrelevante.
Resolvida esta questão, já estavam todos se preparando para partir para o fim de semana (apesar de ser ainda uma manhã de terça-feira), quando aquele mesmo chato do partido nanico levantou de novo a mão:
-Outra questão de ordem, Senhora Presidente: vai ser plebiscito ou referendo?

-Bem... - e, muito a contragosto, voltaram à reunião.

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