E,
naquele país ensolarado, banhado pelas águas cálidas da porção ocidental do
Atlântico Sul, seu povo alegre e cordato estava perdendo a alegria e a
cordialidade com as desgovernanças de seu governo. Para dizer a verdade o povo
estava mesmo é danado da vida com seu governo. E foi um monte de gente para a
rua, em passeata, gritar suas reivindicações, na esperança de que, se gritassem
bem alto, quem sabe seriam ouvidos. No
palácio presidencial, a presidenta ouviu o tumulto e chamou o secretário:
- Qual é o causo, ô guri?
-Tem um povo aí na rua gritando, Excelência.
-E querem o quê?
-Ninguém sabe, Excelência. Cada um quer uma
coisa e não dá para entender nada.
-Então manda a polícia separar uns três aí do
povo, mas que sejam dos menos exaltados, e que os levem - sem bater, por
enquanto - para a sala de reuniões. Convoca o ministério, os presidentes do
senado e da câmara dos deputados, os líderes do governo. Vamos ouvir o povo!
Coitada da presidenta. Tinha esquecido que já
era quarta-feira e que, no dia anterior, os trinta e nove ministros, os
senadores e deputados com respectivos presidentes, os líderes do governo, todos
tinham se mandado para o fim de semana, que ninguém é de ferro. Só estavam ela,
o secretário e a polícia ainda no palácio. Então teve que falar sozinha com o
povo. Acontece que os do povo, ainda que fossem dos menos exaltados, estavam
mesmo é fulos, não se impressionaram com o luxo palaciano e danaram a soltar
suas reivindicações. Para não dizer que inventei, transcrevo a seguir um trecho
da reunião, copiado diretamente da ata:
"-1º do povo: Senhora presidenta, o
transporte está um lixo, ônibus caindo aos pedaços, a máfia dos empresários
cobra o que quer, os prefeitos reduziram a tarifa, mas dizem que vão descontar
nos investimentos sociais...
-Presidenta: Que é que vocês acham: voto
distrital, proporcional ou misto?
-2ª do povo: Senhora Presidenta, a educação
está sucateada, as escolas em ruínas, os professores mal ganham para comer, as
pessoas saem das universidades e nem sabem escrever direito o nome.
-Presidenta: Vocês preferem custear as
campanhas eleitorais com financiamento público, privado ou misto?
-3º do povo: Senhora presidenta, o sistema de
saúde está indo para o ralo, os médicos não querem trabalhar por não terem
equipamentos e remédios, até os médicos cubanos importados preferiram voltar e
enfrentar a fúria de Fidel do que a falta de estrutura daqui.
Presidenta: Plebiscito ou referendo?"
Só consegui copiar este trechinho da ata. Mas
que a reunião foi bem produtiva, foi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário