O povo daquele belo país deitado
eternamente em berço esplêndido nas margens ocidentais do Atlântico Sul não
gostou de saber que o presidente do Senado, acompanhado do presidente da
Câmara, respectivas famílias e puxa-sacos, usou um avião da força aérea para
uma passeio particular de fim de semana. A farra com o dinheiro público pegou
mal e o presidente do senado defendeu-se:
“-Pô, sou chefe de poder e sempre fiz
isso.”
Ah, bom! Assim é diferente. Está tudo
explicado.
Mas, só comentei isto de passagem, pois o
assunto mesmo continua a ser o plebiscito, que este vai dar muito pano para a
manga. Acontece que a presidenta saiu encantada daquela reunião com o povo:
“-Eu percebi que o povo consegue pensar.
O povo é muito inteligente. Não precisamos ter medo. Se a gente explicar bem, o
povo vai entender as perguntas do plebiscito e marcar as respostas que
queremos.”
Eu não tenho esta fé na sabedoria daquele
povo. Afinal, foi o mesmo povo que, em sua sabedoria – ou ausência dela – elegeu
e reelegeu o tal presidente do Senado, mesmo sendo tal cavalheiro incidente e reincidente
no mau uso do mandato, povo este que continua a honrar com seu voto algumas das
mais notórias almas porcas daquele país. Mas, não precisa se preocupar, minha
senhora. Estou falando de outro país. Cá, em terras tupiniquins, estas coisas
não acontecem.
O fato é que o terceiro ou quarto escalão
trabalhou duro e, para surpresa de alguns, em poucos dias conseguiu apresentar
várias sugestões de assuntos a serem abordados no plebiscito. Um dos assuntos,
de interesse óbvio para os políticos do país, diz respeito à forma como o povo
quer financiar as campanhas eleitorais: financiamento público, privado ou
misto. Está boiando, minha senhora? Não se aflija que eu explico, após fazer
uma pesquisa no Google (que é para não passar vergonha) e descobrir que a coisa
funciona mais ou menos como o pagamento de compras no comércio, quando temos
que responder à indefectível pergunta: cheque, dinheiro ou cartão?
No financiamento público o povo paga, mas
quem cobra é o governo, que repassa o dinheiro para os candidatos; no
financiamento privado o povo continua pagando, mas quem cobra é o próprio
candidato; no financiamento misto é um pega-prá-capar, pois ainda é o povo que
paga, mas vai ser cobrado pelos dois lados, governo e candidato. Não estou
entendendo, minha senhora. Quer saber se o candidato não poderia financiar sua
própria campanha? Não, minha senhora. Não vai ter esta alternativa no
plebiscito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário